POR FERNANDA ACHETE
FOTO JOOP VAN HOUDT

ZANDMOTOR


O desastre de Mariana às avessas


Vinte milhões de metros cúbicos conectam uma das obras costeiras mais emblemáticas na Holanda e o rompimento da barreira de contenção de sedimentos (lama e areia) de mineração em Mariana (MG, Brasil).

No caso holandês, o motor de areia (Sand Engine ou Zandmotor) é um projeto piloto de mega-engordamento de praia para contenção de erosão costeira (avanço do mar sobre a linha de costa). O “gancho” se estende por 2,5km ao longo da costa e avança 1km perpendicularmente para dentro do mar. A foto aérea, tirada após a conclusão das obras, nos indica a dimensão da intervenção.

O volume de areia do Zandmotor holandês é o mesmo “liberado” de lama após o rompimento das barragens da Samarco (joint-venture entre a Vale S.A. e BHP Billiton) em Mariana. Esse sedimento passou por cidades, rios na bacia do Rio Doce, estuário até chegar também à região costeira.

No caso do Zandmotor há dezenas de cientistas estudando o comportamento do empreendimento, que – por ser um projeto-piloto e pela dimensão da obra – está permeado de grandes incertezas acerca do comportamento do sedimento e dos impactos nas zonas adjacentes. Por aqui, os desdobramentos no Rio Doce e na costa do Espirito Santo parecem ainda mais incertos, à deriva das consequências inimagináveis da catástrofe ambiental.

 
 

Fernanda Achete,

formada em oceanografia pela UERJ. Trabalha com dinâmica de sedimentos finos e estuários, parte da pesquisa de seu doutorado desenvolvido na Holanda.

Joop van Houdt,

fotógrafo holandês especializado em imagens aéreas.