LUIGI SNOZZI ENTREVISTA

Arquitetura e eternidade


POR GABRIEL KOGAN
FOTOS VIVIANE TABACH

Qual é a relação da arquitetura com a eternidade?

Luigi Snozzi: A arquitetura tende à eternidade. Tende. Hoje, tudo se move. A única disciplina que é contra o movimento é a arquitetura. Porque no mundo onde não há mais pontos de referência, a arquitetura é a única a estabelecer pontos fixos, estáticos. É importante procurar um lugar fixo para se localizar e o homem precisa desses pontos de referência sobre o território. E pontos fixos devem ser feitos com senso de eternidade. As pirâmides do Egito são pontos fixos extraordinários feitos pelo homem. Quando se representa as pirâmides, pensa-se no deserto – e a pirâmide é o oposto do deserto. O deserto é suave, sem ângulos, sem sombras, a pirâmide é totalmente avessa a isso. E estranho que, sendo o oposto ao deserto, é o símbolo do deserto. É interessantíssimo. Assim, a forma de pirâmide faz dela algo indestrutível. As pirâmides não podem cair, nem com bombas. Pois a forma delas é eterna. Não será eterna no sentido de milhões de anos, mas tende à eternidade. Como o mundo – mas o mundo eu não sei aonde vai parar. Provavelmente as pirâmides resistirão até o fim quando não existir mais mundo. O verdadeiro limite da arquitetura está ali.

 

Luigi Snozzi,

arquiteto e professor na Universidade de Alghero, na Sardenha. Entre seus trabalhos de maior destaque estão as diversas obras em Monte Carasso (Suíça).

Gabriel Kogan,

arquiteto formado pela FAU/USP; trabalha como jornalista colaborando para veículos como Folha de S.Paulo, A+U (Japão) e Revista Bamboo.

Viviane Tabach,

artista e fotógrafa.