EDITORIAL


Sobre começos e fins


Fim, apocalipse, destruição, depressão, golpe, crise, entropia.

As analogias sobre os fins recaem hoje em diversas áreas do conhecimento, transbordando do misticismo para a ciência, e vice-versa. Essas questões aparecem – da mais alta academia ao mais baixo jornalismo – em assuntos aparentemente desconexos: arquitetura, antropologia, filosofia, música, arte, literatura, psicanálise, economia, história.

O arquiteto norte-americano Peter Einsemann – autor do clássico “O fim do clássico, o fim do começo e o fim do fim” (ver link) – sugeriu que Rem Koolhaas estava afirmando o fim da arquitetura em sua curadoria da Bienal de Veneza em 2014. No ano seguinte, o antropólogo brasileiro Eduardo Viveiro de Castro e Deborah Danowski lançaram o livro o Há mundo por vir?: ensaio sobre os medos e os fins (ver link) sobre o antropoceno (“a época em que a geologia entrou em ressonância geológica com a moral”) e a crise planetária. Há pelo menos uma década, construindo um sentido diferente sobre o mesmo assunto, o filósofo esloveno Slavoj Zizek palestra e escreve sobre o fim do conceito de natureza.

O tema dessa edição inaugural da Revista Centro, “sobre começos & fins”, reúne pensamentos sobre destruição e reconstrução de conceitos estruturantes do espaço. A partir do debate sobre o estado de crise atual propomos discutir o fim do mundo, o fim da natureza, o fim da arquitetura, o fim da cidade, o fim do indivíduo. O fim dos próprios conceitos fundamentais da modernidade.

Onde resultará esse movimento entrópico criado por nós sobre nós mesmos? É possível compreender esse processo ou simplesmente podemos aceitar sua existência? A iminência do fim cria a imobilidade absoluta ou a potência de ação? O que nos resta e o que se move depois do fim?

Essa edição começa pelo fim para formular uma estratégia de aproximação sobre questões latentes das cidades brasileiras, com pensamentos multidisciplinares, interseccionando arquitetura, arte, literatura e ciências sociais. “Sobre começos e fins” foi editada por Gabriel Kogan, Guilherme Giufrida e Rodrigo Villela. A publicação é produzida pelo CENTRO pesquisas urbanas, instituição fundada em 2015 para discutir teorias e problemas das cidades contemporâneas.

O número 0 é o começo de um diálogo aberto com profissionais de diversas áreas e só foi possível por causa das generosas contribuições de colegas cuja produção reverbera com a discussão aqui proposta. Esses colaboradores, de fato, viabilizaram essa revista e, a todos eles, com profunda gratidão, dedicamos este número.

Ao longo dos próximos meses, queremos lançar uma adição ao número 0, uma espécie de +0, com eventuais novos artigos que dialoguem com os aqui publicados – uma maneira de dar vida aos temas – e estabelecer novas pontes com outros colaboradores.

[dezembro, 2015]

centropesquisasurbanas@gmail.com

https://www.facebook.com/revistacentro1/



Quem somos


GABRIEL KOGAN,

arquiteto formado pela FAU/USP; trabalha como jornalista colaborando para veículos como a Folha de S.Paulo e A+U (Japão).


GUILHERME GIUFRIDA,

antropológo, mestre em antropologia social pelo Museu Nacional – UFRJ, foi assistente de curadoria da 10a Bienal de Arquitetura de São Paulo.


RODRIGO VILLELA,

produtor cultural e editor, formado em letras pela FFLCH-USP. Atua na área cultural desde 1999, em projetos de arte, educação e literatura.



Agradecimentos


Afonso Luz, Amanda Dafoe, Ana Sartori, Berna Reale, Bianca Azevedo, Dolores Prades, Florencia Ferrari, Ilan Kow, Joanna Helm, João Rodrigues, João Turchi, José Marcelo Zacchi, Kim Doria, Luigi Snozzi, Marcello Dantas, Marcio Junji Sono, Marcio Kogan, Nuno Ramos, Pedro Cesarino, Raquel Kogan, Sérgio Guerra, Suely Rolnik, Tamara Solski, Thaisa Burani, Wilson Levy, Éditions La Découverte, Boitempo Editorial e a todos os colaboradores.